Considero o Tarot como o mais perfeito instrumento de percepção dos labirintos da mente humana. Baseado inteiramente em figuras que designam arquétipos - padrões de comportamento coletivo da humanidade, ele é capaz de desvendar a delicada relação que o indivíduo estabelece entre os fatos cotidianos e a energia que está permeando os mesmos naquele momento. Dessa observação, resulta a possibilidade de decodificar as mensagens do inconsciente do consultado e apresentar ao mesmo, os melhores caminhos a tomar, em face aos temas que porventura o estejam afligindo. É como se o Tarot fosse um intérprete para os idiomas falados pela mente e pelo espírito, consciente e inconsciente.
De todos os arcanos, o que penso ser o mais emblemático, o representante desse sistema maravilhoso, é O Eremita. Deixo com vocês essa breve reflexão que escrevi, justamente olhando para a carta.
Arcano IX - O EREMITA
“Ao pássaro o ninho, a aranha a teia, ao homem a amizade” (Willian Blake)
- Quem sou? De onde vim? Para onde vou?...
Este é o Eremita. Legítimo representante da solidão básica do Ser. Com sua lanterna que simboliza a luz do conhecimento, ele busca a iluminação de seu mundo interior. Pacientemente, em silêncio, compreendendo, porém desafiando o tempo que, implacável, devora nossa matéria, mas não destrói nosso espírito, nem liquida nossa alma.
O Arcano encarna o momento em que a intuição e a emoção se encontram para um mergulho mais profundo. Quando o racional e o intuitivo estão bem ajustados, a nossa capacidade de compreender se amplia e quanto mais nós compreendemos, mais ficamos aptos a enxergar. E quanto mais enxergamos, maior é a consciência e a sabedoria sobre nós mesmos. E a chama da lanterna, se transforma num sol, trazendo-nos a receptividade à nossa própria luz.
No Eremita, você se focaliza, por que aprendeu a gostar de si próprio e a conviver com seus desejos e imperfeições, virtudes e vícios, sonhos e fantasias, desesperos e calmas. E é aí, que entra o sentido da fraternidade e da compaixão, pois tudo isso também fica valendo para os outros.
Existe uma diferença fundamental entre a solidão lúcida e a depressiva. Na primeira você é criativo, receptivo, amoroso e vive, literalmente em estado de graça. Você É sua própria realidade. Na segunda, a sensação é de impotência diante da vida, morbidez, escapismo, desconfiança e escuridão.
Sabiamente definido no "Tarot Mitológico", o Eremita indica "um período de solitude, de exílio voluntário das coisas mundanas, da agitação da vida, de forma a obtermos paciência e sabedoria. Esse momento representa a grande oportunidade de erguer e fortalecer a personalidade, se estivermos dispostos a esperar. E assim, finalmente, o Louco chega à maturidade, após ter se encontrado com a razão e o coração. Nesse momento, sua personalidade já está definida e ele pode nutrir um profundo respeito pelas próprias limitações, preparando-se para a grande passagem pela Roda do Tempo."
Por Glória Britho